Manual para minha irmã Vegetariana

Ou Respostas que todo vegetariano ensaia, mas eu daria!

A minha irmã tomou uma decisão que – REPITO, INSISTO E GRITO – me matou de inveja. Ela conseguiu ser vegetariana. Isso, parou de comer carne. Coisa que eu ensaio desde meus 17 anos, quando fui internada por causa de um choque anafilático causado por uma dose de sulfato ferroso injetada depois de constatarem que a pessoa aqui ficou severamente anêmica porquê não levou tão à sério a lista de compensação da nutricionista depois de cortar por meses a ingestão de derivados animais (Pausa — longa —para o drama).

Hoje, dei de cara com a “bomba” de que Júnior Lima resolveu ser vegetariano depois de uma vida promovendo churrascos.

(Pergunta fatal na sua cabeça: Mas o que essa fofoca tem a ver com a sua irmã, minha filha?)

Quem conhece a minha família, sabe que meu pai é um churrasqueiro de primeira, com experiência, mão, jeito e diploma de profissa! E que a(S) minha(S) família(S) são criadas com excesso de carne, fartura de produtos animais e que ainda tem o irmão gêmeo do meu pai para compor o time (imenso) de churrasqueiros familiares.

Enquanto isso, tenho convivido e “tropeçado” em vegetarianos e veganos nas esquinas e quadras dessa vida nova. (Deve ser Deus gritando: menina, deixe de só ensaiar uma vez por semana e vá praticar isso aí!). Ao mesmo tempo, recebi um “chamado da vida” que me obrigou a cortar a lactose. Tudo bem que em alguns momentos – como a alegria de ter ganho 1/3 da mega dose de um milk-shake com zilhões chocolate, o mega empadão (matador) de frango com creme de leite e os dois pudins da festa do Dia das Mães – eu esqueço totalmente até ter reflexos que gritam aqui dentro que essa condição é real agora.

(Outra pergunta martelando na sua cabeça: qual a lógica desse post, Graci?)

Percebi que toda nova condição alimentar é motivo de pelo menos um minuto de explicação, seguido da cara de “— Cê tá louca, fia?”, das pessoas que te cercam e de muita paciência para expor os motivos dessa escolha. E quem se torna vegetariano sabe que um passo difícil dessa nova rotina é a sabatina da família carnívora. Acompanhei de perto a metralhadora de questionamentos que fizeram no fim de semana durante a primeira festa e o primeiro churrasco da família.

E percebi que ela, coitada, passou por um questionário de perguntas clássicas que todo “vegetariano, vegano ou integrante da família Marques Gonçalves” passaria em um momento desses. Como eu e minha irmã (Paola pra quem não conhece – não, não é a Bracho!!!) somos famosas pela língua nervosa e o campeonatos de respostas curtas, coesas e incisivas, resolvi ir além do humor: pra facilitar a vida (dela e futuramente a minha e a do cunhado), completei com sugestões de respostas, podendo ser usadas por todos os vegetarianos do mundo tão bem humorados como nós.

Eu poderia estar aqui reclamando de como ela me acordava cedo quando a gente era criança (uma dose de bullying, irmã…) ou tecendo uma lista de elogios do incrível dom “jeitoso” de cuidar dos cabelos (dela, da minha mãe e dos meus), mas achei essa lista mais interessante que qualquer texto emocional.

 

— Uai, parou por quê?

Sugestão de Resposta (SdR): Prefiro chocolate agora…

 

—  Mas ainda come peixe né?

(SdR) Só os que não tem carne.

 

— E frango?

(SdR) Só os sem carne e ossos.

 

— E presunto?

(SdR) Só de bicho sem carne e sem ossos. E nem de minhoca…

 

— Uai, cê come o que agora?

(SdR) Ovo, ovo de codorna, queijo, tofu, soja, shimeji, mandioqueijo, salada, alface, coração de alcachofra, brócolis, chips, milho, omelete, biscoito polvilho, pão de queijo, lasanha, sanduíche, folhados, salgados, pizza, arroz,  feijão, couve, angu, quiabo e mais couve!

 

OU      (SdR): Tudo, menos carne.

 

— Menina, cê tá doida? Cê vai sumir!

(SdR) Uai, se eu soubesse que sem carne eu ficava invisível, deixava de comer todo fim de bimestre pra roubar as provas de matemática do armário do Getúlio, na escola!

 

— Cê não tem medo de ficar anêmica não?

(SdR) Não: eu já tenho medo de fantasmas, tia….

 

— Mas como você aguenta comer soja? Aquele trem não tem gosto…

(SdR) Só a da minha irmã que é sem graça…

 

— Cuidado pra você não ficar doente!

(SdR) Já sou doente da cabeça, gente! (mais bullying de irmã…)

 

— Você não está se sentindo fraca?

(SdR) Nada, me sinto super forte por resistir. Mas sou fraca das ideias desde criança….

(pausa para rir, porque essa seria uma resposta minha mesmo, que nem a anterior!)

 

— Fazendo promessa? Já acabou a quaresma…

(SdR) Jura? Meu Deus, esqueci de conferir o calendário essa semana!

(Aposto que já pensou em responder isso…)

 

— Um dia você vai voltar a comer carne né?

(SdR) Sim, quando os extraterrestres me abduzirem e me levarem ao MC Donald’s de Marte, vou experimentar tudo!

 

— O que sua mãe acha disso?

(SdR) Que vai ter que comprar mais ovos, queijo e couve pra eu comer com o angu. Ah, e torrar muita soja…

 

— E seus amigos?

(SdR) Continuam meus amigos. E ainda tomam cerveja!

 

— E como você faz com os churrascos?

(SdR) Continuo aceitando os convites, bebendo cerveja, levo queijo coalho, pão de alho. E batata frita!

 

— Mas e o churrasco do seu pai?

(pensando na resposta ainda, irmã…. Me acode!!!!)

 

Observação importante: as respostas são minhas e não tem como objetivo cutucar ou mandar qualquer tipo de indireta para ninguém. É o mais puro exercício da minha ironia, sarcasmo e humor, ok? Vamos nos amar virtualmente, nas redes e presencialmente, como diria Jout Jout!)

Manual para minha irmã Vegetariana

10 comentários sobre “Manual para minha irmã Vegetariana

  1. paolamarques disse:

    Ahhhh adorei a “dedicativa”. Tudo bem que faltou: Eu não sou urubu pra comer carniça, mas a gente é fofa! A sabatina social faz parte de andar na contra maré da doutrina social e explicar com bom humor é o melhor caminho! Quanto ao churras de papai vai ter batata sorriso, espetinho de queijo com abacaxi e pão de tomate com maior carinho! O velho sabe respeitar a diversidade. #gratidão pelo texto Rimã, vc torna meus dias mais engraçados!!! Bjo de alcachofra!

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  2. Adorei! Ainda não cheguei no nível da Paola, porquê ainda como peixe e frango (com menor frequência), mas a meta é só comer o que foi colhido com gentileza do meio ambiente, sem trazer mais angústia, sofrimento e exploração ao mundo. Sugiro a leitura do texto da Eliane Brum para todos aqueles que ainda compram a carne limpinha e embalada no mercado e esquecem do mar de sangue e sofrimento a que esses animais são expostos. Se o coração não se afeta, é bom lembrar também na quantidade de resíduo tóxico gerado, espaço ocupado para produção de soja para alimentar essa produção desumana com milhões de pessoas morrendo de fome… http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/29/opinion/1456756118_797834.html

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  3. Simone disse:

    Comecei lendo este texto, mas deu vontade de ler tudo de uma vez só! Vou lendo aos poucos, mas já deu para perceber a leveza e o bom humor, marcas registradas que você carrega no seu largo sorriso….
    Beijos!
    Simone

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  4. Ane disse:

    Amei Graci !! São escolhas difíceis, passei por episódio parecido quando tinha 12 anos e fiquei sem comer carne por uns 4 … Acabou que até hoje tenho falta da proteína da carne … Sou gaucha mas não tão chegada a tal

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